sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Vida sem graça

Vida sem graça

Café sem cafeína.
Cigarro sem nicotina.
Cerveja sem álcool.
Manteiga sem sal.
Chocolate sem açúcar, ou comida sem gordura. Aonde vamos parar?
Mulheres sem calcinha; homens sem pegada; sexo sem penetração; pessoas sem identidade; mortos vivos – fé cega.
Sofrimento sem dor, ou dor sem sofrimento.
Não sei mais o que sabia, ou nunca saberei o que deveria realmente saber.
Imaginem só a nossa Terra sem lua, sem água potável, uma sociedade sem leis.
Não sei. Repito, não sei.
Não sei aonde vai dar essa loucura toda que vivemos nos dias de hoje.
Músicas sem compositores;
Livros sem papel;
Mar sem onda;
Filhos sem pais, em contrapartida pais sem filhos.
Moeda sem valor de compra;
Raiva sem sentido;
Amor gratuito;
Sentimentos abafados pela velocidade das coisas do nosso tempo.
Vivemos um tempo sem tempo; usamos um relógio atado no pulso para exibir quanto tempo falta para o fim do dia. Contabilizamos a nossa vida enquanto tememos a nossa morte.
Pessoas vivem nas ruas, enquanto mansões vivem vazias.
Na medida em que o número de doentes aumenta, o de médicos diminui. As bactérias estão cada vez mais resistentes, e os homens cada vez mais desistentes.
Em vez de festas grandiosas onde impera a alegria, o que veremos serão suicídios coletivos.
Gás. Venenos. Qualquer morte indolor será válida para resolver o problema da existência humana, ou melhor, da desistência humana.

Zeca Fonseca
Niterói, 16-9-11

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