sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Vida sem graça

Vida sem graça

Café sem cafeína.
Cigarro sem nicotina.
Cerveja sem álcool.
Manteiga sem sal.
Chocolate sem açúcar, ou comida sem gordura. Aonde vamos parar?
Mulheres sem calcinha; homens sem pegada; sexo sem penetração; pessoas sem identidade; mortos vivos – fé cega.
Sofrimento sem dor, ou dor sem sofrimento.
Não sei mais o que sabia, ou nunca saberei o que deveria realmente saber.
Imaginem só a nossa Terra sem lua, sem água potável, uma sociedade sem leis.
Não sei. Repito, não sei.
Não sei aonde vai dar essa loucura toda que vivemos nos dias de hoje.
Músicas sem compositores;
Livros sem papel;
Mar sem onda;
Filhos sem pais, em contrapartida pais sem filhos.
Moeda sem valor de compra;
Raiva sem sentido;
Amor gratuito;
Sentimentos abafados pela velocidade das coisas do nosso tempo.
Vivemos um tempo sem tempo; usamos um relógio atado no pulso para exibir quanto tempo falta para o fim do dia. Contabilizamos a nossa vida enquanto tememos a nossa morte.
Pessoas vivem nas ruas, enquanto mansões vivem vazias.
Na medida em que o número de doentes aumenta, o de médicos diminui. As bactérias estão cada vez mais resistentes, e os homens cada vez mais desistentes.
Em vez de festas grandiosas onde impera a alegria, o que veremos serão suicídios coletivos.
Gás. Venenos. Qualquer morte indolor será válida para resolver o problema da existência humana, ou melhor, da desistência humana.

Zeca Fonseca
Niterói, 16-9-11

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Crise do Casal

O que é isso que permeia o relacionamento heterossexual nos dias de hoje que tangencia o desprezo e a falta respeito mútuo?
Acho que sobra muito pouco além do sexo. Talvez seja isso que faça do casal um artigo em extinção. Será?
Ou essa crise não passa de mera decadência das relações humanas que acaba refletindo-se na célula da sociedade que é a família?
Homens e mulheres já não se olham com bons olhos ou com romantismo, ou em última análise com respeito. Resta ainda uma fagulha, mas ela não aciona mais a chama do amor. Sabemos que existe uma carnificina erótica, nos becos da noite, onde ambos os sexos colecionam trepadas como um filatelista coleciona selos. Essa dura realidade que dilacera os casais está estampada aí para qualquer pessoa inteligente perceber. Quem não é inteligente não percebe nada, apenas é levado pela onda até se esborrachar em alguma pedra. Os casais sucumbem cada vez mais rapidamente; pouco depois da cópula, se assim posso dizer. E se cópula não houver, aí é que a coisa fica difícil. Tudo pode acontecer de uma hora para outra. Recomendo todo o cuidado aos casais que bravamente ainda permanecem casados. E, não custa lembrar que o conceito de casal se estende aos homossexuais também. Reconheço neles casais como qualquer casal heterossexual. Os moldes são muito parecidos; existem mais semelhanças do que diferenças.
Portanto estamos todos nós, que vivemos em parceria afetiva, no mesmo barco.
Qualquer casal sofre com as ultrassensações que fazem parte dessa modernidade transloucada em que vivemos no século XXI. Mas isso não significa que inexistam casais fiéis e leais. Ainda bem; o fim dos casais representa o fim da família, ou de algo parecido.
O sexo está no ar, nas revistas e em todo o lugar, e persistindo nas camas dos casais que conseguem superar suas crises.

Zeca Fonseca
Niterói, 2-set-2011