segunda-feira, 26 de outubro de 2009

TRECHO DE “O ADORADOR” publicado em 2007

"Espontaneidade vai virar palavra de ordem em breve.
Eu entrei. Você entrou. Todos entrarão na era natural.
Tudo que é natural tem mais valor.
Já é assim com os alimentos.
Será assim também com as pessoas.
Pessoas autênticas terão seu valor reconhecido.
Algo está acontecendo no planeta.
Pessoas muito poderosas arquitetam o bem na calada da noite.
Sem alarde. Sem orgulho. Sem sacanagem.
Vibrações positivas estão dissolvendo e transformando em poeira cósmica toda esta merda que permeia a vida da gente.
O romantismo voltará à moda.
Precisamos liberar os ansiolíticos aos ansiosos.
Sem receita e sem controle.
Precisamos liberar a maconha, para vender nas farmácias.
Com prazo de validade, bula e tudo o mais.
Vamos erradicar a ansiedade da face da terra com os benzodiazepínicos e a maldita erva.
Atacaremos o sistema nervoso central dos filhos da puta que aceleram desnecessariamente a vida da gente.
O trânsito de pessoas e de veículos seria diretamente beneficiado.
Poucos malucos sairiam de casa.
Todos num estado semidrogado, controlado.
Prisioneiros acorrentados quimicamente.
Encarcerados em suas próprias mentes.
Amansados, felizes, castrados em seu cerne.
Fodam-se.
Que paraíso... O mundo viveria dias mais calmos."

terça-feira, 20 de outubro de 2009

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

INFELIZ NATAL DE 2008

De uns anos para cá não tenho saído muito de casa à noite, assim como alguns milhares de cariocas que têm algo a perder; seja do ponto de vista financeiro, ou até vendo pelo aspecto do potencial intrínseco que cada pessoa possui e que pode ser suprimido de um momento para outro enquanto exercemos o direito mor de ir e vir.
Porém, imbuído do espírito natalino resolvi aceitar convite para confraternizar com dois amigos num restaurante do Baixo-Gávea, zona sul do Rio de Janeiro.
Foi numa quarta-feira, dia dezessete de dezembro; cheguei ao restaurante com a minha motocicleta por volta das 19 horas, estacionei e fui me reunir com os amigos numa mesa do restaurante. Estávamos todos felizes como há muito não via; aquele clima me contagiou e acabei ficando lá mais tempo do que programara, pois tinha planos de chegar cedo em casa.
Por volta das nove e meia me despedi dos amigos; peguei a minha motocicleta e rumei para o Jardim Botânico.
Eu não percebi, mas passei a ser seguido por duas motos com dois elementos em cada; eles estavam com os faróis apagados, e por estarem todos os semáforos da Rua Jardim Botânico abertos, os criminosos só conseguiram me abordar quando eu precisei diminuir a velocidade para transpor um dos imensos quebra-molas que a prefeitura construiu na Rua Benjamim Batista. E, detalhe, isto aconteceu bem em frente a uma das cabines de segurança particular da rua. Naquele trecho que é paralelo à Rua Jardim Botânico tem diversas cabines com seguranças que não servem para nada na hora em que a barra fica pesada. Pois eles mesmos não tem o que fazer para evitar que os crimes ocorram. Não usam armas e estão munidos apenas de um apito. Vejam bem, um apito para combater todos os perigos. Então eu me pergunto: para quê servem os seguranças se eles somem quando é mais necessária a presença deles? Seria melhor se instalassem espantalhos inanimados dentro das cabines, como aqueles que se usavam nas lavouras antigamente, antes de inventarem os malditos agrotóxicos.
A abordagem dos assaltantes foi contundente e assustadora. Abalroaram a minha motocicleta com a roda da frente da moto deles. O carona desta moto brandia uma pistola enorme e reluzente. Uma arma para impressionar. Ao mesmo tempo em que eu tombava com a minha motocicleta outra moto com dois bandidos chegava por trás, tudo muito rápido, muito bem executado. Eles sabiam o que faziam e estavam prontos para me matar se fosse preciso. Já devem ter praticado isso inúmeras vezes, tal era a destreza exibida na ação.
Recebi algumas coronhadas e ainda levaram todos os meus pertences.
Eu devia me sentir feliz por estar vivo e por ter escapado ileso. Mas não consigo parar de sentir uma angústia acachapante; um sentimento de impotência que não cessa. Sinto-me acuado na cidade em que nasci; na cidade que teima em ser maravilhosa, mas que a cada dia se torna mais perigosa.
Quando o poder público não consegue impor o respeito às leis e à ordem, prolifera a fragilidade de toda uma sociedade-alvo, exposta cada vez mais a episódios violentos e traumatizantes, por que não dizer fatais.
Os cariocas correm perigo e muitos já se condenam a não sair mais de noite e se vêem confinados tal qual prisioneiros em suas próprias residências. Mas nem dentro de casa o cidadão está totalmente protegido. A ousadia dos bandidos parece não ter limites, pois quando querem invadem residências e delegacias; e quem deveria dar estes limites? De quem é a culpa? O que podemos fazer? Quem vai recuperar a minha motocicleta?
Tenho vontade de abandonar a cidade que amo. Procurar outro estado onde eu possa ir e vir despreocupadamente.
Motocicleta é um ícone de liberdade, mas eu não posso mais ter motocicleta no Rio de Janeiro. Não me sinto mais livre e jamais andarei de motocicleta na minha cidade. Afinal a liberdade é o sentimento que move os verdadeiros motociclistas. E liberdade não combina em nada com o Rio de Janeiro do século XXI.

(carta enviada, e não publicada, ao “O Globo” em dezembro de 2008)

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Escrever é...

Meu ostracismo é para me isolar; para me alimentar de mim mesmo e conseguir entrar numa certa órbita e conseguir escrever... (é difícil mesmo)
Quando eu saio para me divertir ou para fazer as coisas que todos fazem: Shows, praia com amigos, barzinhos, momentos alegres, sorrisos, prazer: o convívio social acaba tornando a vida mais suave. E é na suavidade dos dias felizes que minha vontade de escrever se esvai.
Entende?
Ainda não aprendi a escrever feliz.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Felicidade é um tesouro. Mas um tesouro não é necessariamente sinônimo de felicidade.

"Uma por dia" de Zeca Fonseca

Ele é um especialista.
Sua especialidade: mulher.
Qualquer fêmea serve se não tiver uma já esquematizada.
Ele é um Arquiteto do sexo.
Sua meta consiste unicamente em conquistar, o mais rápido possível, a mulher desejada. E se afastar da forma menos canalha que puder, logo após o primeiro ato sexual.
Seu método é simples: diz que está apaixonado e que isso representa paixão à primeira vista; diz para a mulher em questão que ela é linda e que jamais viu tamanha beleza.
Para todas a mesma coisa; a mesma fórmula.
O mesmo tipo de afago e a mesma maneira melíflua de beijar.
Nunca muda; ele é sempre o mesmo homem: um sedutor adorável no início, e um louco insano depois de conseguir copular como queria.
Aprecia o ato sexual – goza – mas não sente alegria.
Se convence ser um artista e se vangloria de nunca, mas nunca mesmo, ter transado duas vezes com a mesma mulher.
Para cada mulher, um único coito; para cada dia, uma mulher.
Quando se apaixona, e em geral isso ocorre com as mulheres que demoram mais a se entregar sexualmente, aí é que o especialista maltrata-as depois de possuí-las. Expurga-as de seu coração como se estivesse varrendo baratas mortas. Ou, se a mulher é que fica apaixonada e procurando-o insistentemente, então é hora de apelar. O malvado diz que não pode ter um relacionamento sério com ninguém porque é portador do virus da AIDS, e isso afasta rapidamente as mulheres mais difíceis de largar.
Lógico que esse coito único tem de ser sempre com camisinha.
Ele não pode correr riscos de espécie alguma.
Bebês não são bem-vindos.
O homem que estou tentando descrever é bonito. Alto. Seu corpo é bem definido e o pênis é grande.
Ele não trabalha.
Porém dedica todo o seu tempo às suas conquistas amorosas.
Se resolver ir à praia em seu carro conversível ou em sua moto possante, seu público alvo neste caso serão as mulheres mais libertinas. Ele pode também pegar o seu Fusquinha de estimação e ir a um dos clubes grã-finos, do qual é sócio, e investir noutro tipo de mulher.
Mulheres não faltam.
Mulheres são como minhocas.
Atualmente, com a banalização cada vez maior da internet, o nosso anti-herói investe suas horas em sites de paquera e salas de bate-papo que estão sempre abarrotadas de minhocas.
Ele tecla e marca encontros com várias delas.
Umas feias, algumas bonitas e muitas horrendas.
Sua agenda está cheia de mulheres de todos os tipos e idades.
Não quer dizer que este personagem goste realmente de mulher.
Assim como um colecionador que se diverte apenas na busca pela peça cobiçada; depois só se contenta pelo fato de tê-la em seu poder. Da mesma forma age o protagonista desta paródia, que logo após conquistar as mulheres desejadas, confina-as em porta-retratos largados no fundo de um armário que jamais será aberto. Onde todo o seu conteúdo se converterá em mofo.
Mulheres mofadas.
Mulheres mal amadas, e esquecidas no passado mal passado de suas frustrações amorosas.
Aprisionadas para serem abandonadas.
Sua coleção, na verdade, é uma manifestação de misoginia.

Uma por dia.
Todo dia.

Ele se sente um deus. Mas é apenas um homem que não gosta e nem desgosta das mulheres. Ele as usa.
Um senhor feudal empunhando uma espada demolidora; singrando vaginas, ora crentes, ora indecentes.
Se um dia, por algum motivo, o esquema de foder as mulheres e a vida das mulheres parar de funcionar, o misógino contratará uma prostituta, ou se masturbará freneticamente tendo como inspiração as fotos de suas ex-namoradas.
Aquelas mesmas com quem transou apenas uma vez.

Zeca Fonseca
Rio/2008

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Conclusão:
O fato é que estamos no meio de uma guerra; e, o pior, nós somos o alvo!