sábado, 31 de dezembro de 2011

Leia INFELZ NATAL (crônica que integra meu livro ARTéRIAS)


De uns anos para cá não tenho saído muito de casa à noite, assim como alguns milhares de cariocas que têm algo a perder; seja do ponto de vista financeiro, ou até vendo pelo aspecto do potencial intrínseco que cada pessoa possui e que pode ser suprimido de um momento para outro enquanto exercemos o direito mor de ir e vir. Porém, imbuído do espírito natalino resolvi aceitar convite para confraternizar com dois amigos num restaurante do Baixo-Gávea, zona sul do Rio de Janeiro. Foi numa quarta-feira, dia dezessete de dezembro; cheguei ao restaurante com a minha motocicleta por volta das dezenove horas, estacionei e fui me reunir com os amigos numa mesa do restaurante. Estávamos todos felizes como há muito não via; aquele clima me contagiou e acabei ficando lá mais tempo do que programara, pois tinha planos de chegar cedo em casa. Por volta das nove e meia me despedi dos amigos; peguei a minha motocicleta e rumei para o Jardim Botânico. Eu não percebi, mas passei a ser seguido por duas motos com dois elementos em cada; eles estavam com os faróis apagados, e por estarem todos os semáforos da Rua Jardim Botânico abertos, os criminosos só conseguiram me abordar quando eu precisei diminuir a velocidade para transpor um dos imensos quebra-molas que a prefeitura construiu na Rua Benjamim Batista. E, detalhe, isto aconteceu bem em frente a uma das cabines de segurança particular da rua. Naquele trecho que é paralelo à Rua Jardim Botânico há diversas cabines com seguranças que não servem para nada na hora em que a barra fica pesada. Pois eles mesmos não têm o que fazer para evitar que os crimes ocorram. Não usam armas e estão munidos apenas de um apito. Vejam bem, um apito para combater todos os perigos. Então eu me pergunto: para quê servem os seguranças se eles somem quando é mais necessária a presença deles? Seria melhor se instalassem espantalhos inanimados dentro das cabines, como aqueles que se usavam nas lavouras antigamente, antes de inventarem os malditos agrotóxicos. A abordagem dos assaltantes foi contundente e assustadora. Abalroaram a minha motocicleta com a roda da frente da moto deles. O carona desta moto brandia uma pistola enorme e reluzente. Uma arma para impressionar. Ao mesmo tempo em que eu tombava com a minha motocicleta outra moto com dois bandidos chegava por trás, tudo muito rápido, muito bem executado. Eles sabiam o que faziam e estavam prontos para me matar se fosse preciso. Já devem ter praticado isso inúmeras vezes, tal era a destreza exibida na ação. Recebi algumas coronhadas e ainda levaram todos os meus pertences. Eu devia me sentir feliz por estar vivo e por ter escapado ileso. Mas não consigo parar de sentir uma angústia acachapante, um sentimento de impotência que não cessa. Sinto-me acuado na cidade em que nasci. Na cidade que teima em ser maravilhosa, mas que a cada dia se torna mais perigosa. Quando o poder público não consegue impor o respeito às leis e à ordem, prolifera a fragilidade de toda uma sociedade-alvo, exposta cada vez mais a episódios violentamente traumatizantes e, porque não dizer, fatais. Os cariocas correm perigo e muitos já se condenam a não sair mais de noite e se veem confinados tal qual prisioneiros em suas próprias residências. Mas nem dentro de casa o cidadão está totalmente protegido. A ousadia dos bandidos parece não ter limites, pois quando querem invadem residências e delegacias; e quem deveria dar estes limites? De quem é a culpa? O que podemos fazer? Quem vai recuperar a minha motocicleta? Tenho vontade de abandonar a cidade que amo. Procurar outro estado onde eu possa ir e vir despreocupadamente. Motocicleta é um ícone de liberdade, mas eu não posso mais ter motocicleta no Rio de Janeiro. Não me sinto mais livre e jamais andarei de motocicleta na minha cidade. Afinal a liberdade é o sentimento que move os verdadeiros motociclistas. E liberdade não combina em nada com o Rio de Janeiro do século XXI.

Zeca Fonseca
Carta enviada, mas não publicada, ao jornal O GLOBO (Dezembro de 2008)

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

NATAL EM FAMÍLIA

Natal em família

Estavam todos ali; não faltava nada.
A casa nunca esteve tão enfeitada.
Tinha arroz de polvo, bacalhau e as coisas de Natal.
Os melhores vinhos, todos de Portugal.
A velha árvore prateada ficou pequena naquele ano, em meio a tantos presentes.
Os pequenos corriam em volta da casa. Alegres e ansiosos.
O tempo parecia haver estancado.
E, chegado o grande momento da noite, o patriarca distribuiu presente por presente;
em uma espécie de ritual que só ele sabia proporcionar.
Depois as crianças foram brincar com os presentes,
enquanto os adultos, encharcados de vinho, também faziam das suas.
Os risos e os afetos aumentavam parecendo eternos.
Aquele ano foi inesquecível.
Estavam todos lá!
E não havia tristeza!

Zeca Fonseca - Rio de Janeiro, 1988

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

A FITA é MÉTRICA



“Pai, preciso te fazer uma pergunta.”
“Claro meu filho, pode perguntar.”
“Qual o tamanho do seu pênis?” Depois de um ligeiro silêncio, em que os dois se olharam nos olhos. O pai tentando entender o filho, o filho torcendo para seu pai ter o pau pequeno também.
“Acho que é normal. Por que você quer saber?”
“Normal quanto?” O filho estava visivelmente determinado em sua curiosidade e aquilo começou a intrigar seu pai.
“Nunca medi, deve ter, sei lá, mais que dez centímetros certamente e menos que vinte.” O pai não tirava os olhos do filho, esperando ansioso pelo desfecho daquela conversa sui generis.
INÍCIO de A FITA é MÉTRICA, conto inspirado em um diálogo real que chegou aos meus ouvido trazido pelo vento. Faz parte da coletânea ARTéRIAS que está à venda no site da Editora Faces para quem possui bom gosto, e R$28,90.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

ARTéRIAS


"Num tempo futuro, não tão distante dos dias de hoje, o mundo todo, a Terra,
portanto, será oficialmente de maioria gay. Por uma questão de preservação da
espécie todas as mulheres serão homossexuais ou bissexuais porque somente elas terão liberdade para ir e vir, num mundo onde toda a forma de prazer será aceitável. Exceto o prazer heterossexual." Início do conto NOVA ORDEM SEXUAL, que faz parte do livro ARTÉRIAS, recém lançado. Só tem na Argumento, e na Travessa. Ou no site da Editora Faces. Ou peça emprestado a quem comprou, ou se estiver sem dinheiro escreva para a editora e consiga ulguns contos de brinde!

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Dedicatória


"Eu a amo com todos os órgãos do meu corpo!
Sinto este amor como se houvesse uma orquestra sinfônica dentro de mim;
e uma música clássica, tal qual sua beleza, estivesse sendo executada unicamente para reverenciá-la. Enquanto a orquestra entoa sua arte, a vida corre solta nas artérias, minha e dela, purificando o tom da alegria que nos exacerba." Crônica DEDICATÓRIA, parte da coletânea "ARTéRIAS", já à venda no site da Editora Faces.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011


"Eu não quero me furtar mais. Este é o motivo que me faz jogar toda a merda no ventilador só agora. Aguentei muito tempo calado, mas não foi por medo da retaliação que por ventura aconteceria se eu contasse a qualquer momento o que sei. A verdade é que muita gente vai ficar estarrecida com as atrocidades emocionais que estão contidas na minha narrativa." Trecho extraído do conto "Descontando a História" do livro ARTéRIAS, que pode ser encontrado no site da Editora Faces.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

ARTéRIAS


Este é o meu terceiro livro publicado. O primeiro foi "O Adorador" em 2007. O segundo "Pandemonium" em 2010, e agora "Artérias" em 2011. Esta é a capa do livro. São dezenove contos e crônicas, e na abertura de cada um deles tem uma fotografia feita por mim; em alguns casos eu fiz a fotografia primeiro e depois escrevi, e noutros casos eu fiz a foto para ilustrar o conto mesmo!
O livro está à venda no site da editorafaces.com.br ou nas livrarias que têm interesse em vender livros para pessoas sensíveis também, e não só traduções de best sellers mundiais. Não sou contra eles, mas só vender isso é ignorar que existe gente escrevendo coisa boa aqui no Brasil.
Dia 17 próximo terá uma marcha contra a Usina de Belo Monte. Me desculpe se algum amigo meu acredita nessa balela orquestrada que mais parece a marcha da TFP dos anos 1960. Quem for nessa marcha engrossará a massa de manobra de grupos que não querem um Brasil competitivo no cenário econômico mundial; e precisa ser um tanto burro para não perceber isso. Impacto ambiental não é nada perto do impacto social que está em jogo.

ARTÉRIAS


"Prefiro ocultar meu nome. Não quero me comprometer depois de tudo que fiz. Não quero ser presa e condenada por meus atos. Afinal cometi crimes que toda a sociedade aprova. É uma questão complicada fazer justiça com as próprias mãos. Mas foi o que aconteceu." Trecho de "A Eleitora", um dos contos do novo livro "ARTéRIAS" que acabei de lançar. Pode-se encontrar no site da editorafaces.com.br

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

You and me

I pod, mas vc não pode!
I pad, mas vc não faz!
I touch, mas vc não sente!

domingo, 4 de dezembro de 2011

MATADOURO nº 1

MATADOURO nº 1

Observo que de uns tempos para cá tem surgido um tipo de pessoa que se diz engajada em causas ambientais, mas que na verdade são integrantes de uma boiada que pasta junta e acredita em tudo que dizem a elas. Muitas vezes eles estão certos: abraçam a lagoa e às vezes fazem algum estardalhaço que tem algum sentido social. Mas não podemos nos iludir e achar que terão sempre razão. Afinal nós, reles espectadores do caos, temos tutano e não vamos embarcar em qualquer campanha. Que me perdoem os artistas unidos contra a construção da hidrelétrica de Belo Monte, mas prefiro-os nos palcos, nas telas dos cinemas e da TVs.
Neste episódio de Belo Monte é muito claro que eles estão sendo manipulados por forças ocultas interessadas em vender outro tipo de energia no lugar da que o governo está propondo. Não vou cair nesse mérito da questão, deixo isso para os especialistas. Vasculhem a internet em busca de informações. Leiam sobre Usinas termoelétricas que dependem de combustível para funcionar. Pode estar aí o X da questão.
Consultem os interesses dos usineiros de cana de açúcar, os verdadeiros vilões do Brasil. Mas ninguém quer falar disso! Por que será? Por que os atores abraçaram a campanha contra a Usina de Belo Monte? Com certeza não é por causa dos índios e nem das populações ribeirinhas. Por que não questionam os pastos que avançam floresta adentro. O Brasil está sendo ocupado pelo gado; bilhões de peidos são emitidos na atmosfera a cada minuto. Quem é que vai pagar por este estrago no planeta? 37% da emissão de gás metano são de responsabilidade da pecuária? Mas saibam que nem todo o gás vem dos anus desses animais como se pode imaginar, metade vem da ruminação dos mesmos.
A verdade é que somos o maior matadouro do mundo e a nossa carne é exportada para diversos países que preferem pagar pela carne a arcar com o ônus da criação. Esse prejuízo ambiental é nosso, mas é de todo o planeta também. Desmatamos nossas florestas para fabricar campos de concentração de bovinos peidorreiros, e no final do processo o dono de algum restaurante colocará um lindo steak no prato de um cliente otário que pagará cinquenta dólares para ter o prazer de saborear aquela carne deliciosa resultante da carnificina MADE IN BRAZIL. Quantos centímetros cúbicos de gás metano foram produzidos até aquele steak chegar ao primeiro mundo? Quantos bifes serão necessários para destruir o planeta de vez? Vamos, algum cientista me responda; quantos bifes nos restam até o final do planeta Terra? Não vou mudar de assunto, mas e nossas crianças pobres que não têm um ensino decente? Entregues ao azar, carentes de tudo, e gratas por qualquer migalha de esperança. Assim, do jeito que a coisa vai construiremos mais presídios que escolas. Ou, analisando por outro prisma, alcançaremos o status de catedráticos em violência urbana, já que os presídios acabam funcionando como um estágio de aperfeiçoamento do detento que deveria estar sendo recuperado para a sociedade. Ou seja, a universidade do crime está dentro dos próprios presídios que construímos. Jogamos a sujeira para baixo do tapete como qualquer faxineiro relapso; e fazemos cara de indignados quando a sujeira aparece. Somos protagonistas da merda que nos envergonha, e não vejo muito jeito desse script mudar.

Zeca Fonseca
Niterói, 29 -11-11

domingo, 20 de novembro de 2011

Casamento x Futebol

Quando eu era bem pequeno me fizeram aquela pergunta clássica “o que você quer ser quando crescer?” E eu, do alto de meus cinco anos, disse:
“Quero ser homem casado.” Todos riram daquela minha frase, porque imaginaram uma resposta como ‘quero ser bombeiro’, policial ou qualquer outra coisa, menos homem casado.
Bom, meus pais não se preocuparam com aquilo. E sempre contavam a história em tom de piada. Eu nunca entendia a graça da piada; e só hoje, depois de dois casamentos fracassados, consigo entender o que tem de hilário naquele meu desejo infantil.
Eu sempre quis ser o chefe de uma família feliz, pois era assim que eu via a minha própria família. Uma ilha cercada de felicidade por todos os lados. Tudo era perfeito, apesar dos percalços normais que por vezes desestabilizavam aquela felicidade reinante na ilha, ou seja, na família.
O tempo passou e eu casei com a mãe de meu filho, ainda na faculdade. Éramos o casal cult da PUC no início dos anos 1980. Nosso filho nasceu logo, em 1982, em plena Copa do Mundo de Futebol. Aquela Copa foi disputada na Espanha e eu, como um bom viciado em futebol, queria ver todos os jogos. Fui forçado a mentir para minha esposa, e disse que estava fazendo hora extra no jornal em que trabalhava na época. Eu era responsável por render minha sogra que ficava com o nosso filho todos os dias para que pudéssemos trabalhar. E os jogos da Copa eram justamente no horário em que eu tinha de chegar para liberá-la. Resultado: a mãe dela passou a ficar até mais tarde para me esperar. Pronto, minha Copa estava salva, só não sabia que no final o Brasil seria desclassificado pela Itália do modo como foi, jogando melhor. Futebol tem isso que nenhum outro esporte tem – nem sempre vence o time que joga melhor. E foi assim naquela Copa de 1982 vencida pela Itália. O Brasil era muito melhor, e jogava um futebol bonito de se ver.
O tempo não parou e casei novamente, desta vez nasceu uma menina. Assim como no nascimento do meu filho, em 1992 o Vasco da Gama, meu time de coração, também foi campeão carioca. Hoje meu filho continua sendo vascaíno e isso é motivo de muito orgulho para mim. Minha filha foi contaminada pela família de sua mãe e hoje em dia torce pelo Flamengo. Isso poderia ser motivo de profunda tristeza para mim. Mas sei que um dia ela vai acordar desse pesadelo preto e vermelho em que vive.
Nesse ano meu time está demais. O Vasco já ganhou a Copa do Brasil, está em segundo no campeonato brasileiro e ainda tem chance de ganhar a Copa Sul Americana. Se isso acontecer será um feito inédito; nunca um clube brasileiro venceu essas competições em um mesmo ano.


Zeca Fonseca
Niterói, 18-nov-11

domingo, 6 de novembro de 2011

Rolling Tears ou “Mas foi o que aconteceu”

Eu tinha 17 anos nessa época. O mundo estava vivendo crises econômicas consecutivas. O planeta sofria com terremotos, vulcões entrando em erupção e outras desgraças como o aquecimento global que não cessa. Minha mãe vivia me falando para eu arrumar um bico para ganhar um dinheiro porque ela não podia mais me dar mesada.
Um vizinho meu tocava bateria muito bem, podia escutá-lo todos os dias; resolvi bater lá na porta dele e perguntar se toparia fundar uma banda comigo. Ele topou. Já tínhamos um cantor, eu; um guitarrista, eu; um compositor, eu; e um baterista, o Vizinho.
Nos primeiros dias a banda não tinha nome ainda, portanto esta foi a primeira coisa a fazer depois que determinamos que nossas bandas preferidas eram Magnetic Fields, Rolling Stones e Faces. Chegamos à conclusão que o nome de nossa banda deveria ser em inglês, já que nossas bandas de preferência cantavam em inglês. Eu disse que queria algo que de alguma forma reverenciasse essas bandas. Pensamos em várias alternativas. Faces foi logo descartado porque existe uma editora com este nome; sugeri Magnetic Tears e Vizinho retrucou dizendo:
“Rolling Tears.”
“Perfeito.” Eu disse. E era mais que perfeito aquele nome, pois tínhamos uma pegada meio melancólica.
E assim surgiu a banda.
Em um mês já tínhamos um baixista experiente e uma empresária dedicada.
Em dois meses já tínhamos uma música para iniciar o trabalho de divulgação da banda. Por incrível que pareça a música foi escrita pelo Vizinho, e ele mesmo cantava. Deu tudo certo no estúdio e a música encaixou. Eu fazia coro com o Vizinho no refrão. A música era meio grunge, meio balada de rock da antiga e conta a história de um homem que desiste de viver apesar de não ter motivo para isso; nenhuma tristeza para justificar um suicídio, mas foi o que aconteceu segundo a própria letra da música. Esse era o refrão que eu cantava com o Vizinho suicida. Sim, foi isso mesmo que aconteceu. O vizinho, depois do estouro da Rolling Tears no mercado fonográfico, resolveu se suicidar tal qual a letra que ele escrevera; sem motivo, sem tristeza. Entrou do banheiro e só saiu de lá numa maca – morto.
Em três meses não havia mais banda. Não havia mais nada. Eu fiquei mal. Era como se eu tivesse morrido e não o Vizinho. Não saía mais de casa e não encostava mais na guitarra. O baixista já estava em outra banda, e a empresária sumiu. Comecei a tomar remédios fortes contra depressão. Queria gritar, ou explodir se fosse possível.
Resolvi me matar quando meu pai abriu a janela aberta e disse enquanto admirava o mar:
“Isso é que é vida...” Eu dei inicio a uma corrida calculada em direção à janela e quando cheguei perto da janela me atirei de cabeça no embalo. Ainda senti minha calça roçando a camisa de meu pai. Não queria mais viver, mas me arrependi no momento em que senti o ar – queda livre, sem volta.
Escutei o som do grito de meu pai se afastando, senti vontade de dizer que amava ele como amava minha mãe. Queria morrer antes de atingir o solo, foi a última coisa que deu tempo de pensar.

Zeca Fonseca
Niterói, nov 2011

sábado, 5 de novembro de 2011

domingo, 23 de outubro de 2011

Pátria sem vergonha; ou sem vergonha da Pátria!

Pátria sem vergonha; ou sem vergonha da Pátria

Cansei desse papo de que o Brasil é o país do futuro. Quero saber do nosso momento presente; os brasileiros merecem um governo honesto e trabalhador. Pensei que a Dilma iria varrer os sanguessugas do Planalto, mas também não posso pensar que esse dia não vá chegar. Nossa terra tem palmeiras, e nosso povo paciência de sobra.
Alguma coisa precisa mudar urgentemente no pensamento do cidadão brasileiro; quem vai dizer à nação que o povo está livre para ir e vir? Quem vai priorizar a cultura e a difusão de ideias para dar ao povo o que é do povo por direito — educação? Mas precisamos vencer algumas etapas antes. Assisti, na semana que passou, a um jornal televisivo cujo nome não vou revelar, a notícia de que um desembargador pôs em liberdade um cidadão, funcionário público, que atropelou várias pessoas com sua arma, digo, seu automóvel. Uma pessoa perdeu a vida.
Chama atenção a impunidade que teima em desenvolver-se, como um câncer em estágio avançado, no Brasil. Talvez nunca desapareça, mas é preciso que diminua drasticamente.
O tal funcionário público, de Niterói, era responsável justamente pelo setor de fiscalização por bafômetro.
Agora vocês devem estar se perguntando: ‘Será que o funcionário público bebum que cuida da fiscalização por bafômetro aceitou fazer o teste depois de atropelar um monte de gente?’
Eu respondo se vocês não leram nos jornais:
Não. Ele se negou a fazer o teste que comprovaria sua embriaguês. E está livre apesar de ter cometido um crime onde uma pessoa faleceu.
Aí eu é que pergunto:
Que diabo de justiça é essa ,onde só os fodidos se fodem?

Zeca Fonseca
Niterói, 21-10-2011

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Pra não dizer que não falei de rock and roll

Roubada no Rock
Vou narrar em primeira pessoa do singular a aventura de uma jovem de dezoito anos que suplantou diversos obstáculos para assistir ao show do Guns and Roses, sua banda preferida, no último dia do ROCK IN RIO:
“Saí de minha cidade, no interior de São Paulo, às seis horas da manhã de domingo. Disse para minha mãe que iria passar o domingo e parte da segunda-feira na casa de uma amiga que mora numa cidade vizinha. Minha mãe confia muito em mim, e não desconfiou nem um pouco daquele meu audacioso plano. Eu sabia que se falasse que iria para o Rio de Janeiro, isso acarretaria uma demorada conversa para me convencer dos múltiplos perigos que eu estaria correndo. Por isso eu menti para ela. Eu que odeio mentira, mas sabia que era uma mentira necessária. Afinal minha mãe não entenderia que o meu desejo era mais forte que qualquer lógica. Eu sabia dos riscos, e mesmo assim embarquei em um ônibus interestadual ao raiar do domingo. No céu azul estava começando a aparecer umas nuvens. Mas nada preocupava, na verdade o desejo me cegava. Combinei com minha amiga que se minha mãe telefonasse era para não atender. Na casa dela o telefone fixo estava com defeito, o que era perfeito para meu plano dar certo. Depois inventaria alguma desculpa para não ter atendido o telefonema dela, ou mandaria umas mensagens pelo meu celular dizendo que estava tudo bem. Cheguei à rodoviária do Rio pouco depois das seis da tarde. Assim que desembarquei, me informei sobre a condução que deveria tomar para chegar ao evento. Duas horas mais tarde estava entrando na Cidade do Rock que já estava lotada de gente de todos os tipos. Fiquei estarrecida. Tentava entender aquele espaço enquanto respirava fundo para manter a calma e não me meter em confusão. Tudo que via me encantava, mas também amedrontava. Tinha muita gente doida e parecia que aquela massa humana era impenetrável. Resolvi esperar o momento adequado para me aproximar do palco. Logo que acabou o show que precedia a minha amada banda, começou uma chuvarada danada. Aquilo foi bom porque proporcionou espaço suficiente pra eu me aboletar na grade de proteção, passando para trás toda aquela multidão. Na minha frente apenas os seguranças – depois o palco sagrado, onde meu ídolo Axel Rose em breve cantaria aquelas canções que eu sempre cantava junto com ele na solidão do meu quarto. Quando o Guns entrou no palco eu urinei nas calças sem querer. Era muita emoção; por isso nem liguei, afinal estava todo mundo encharcado ali. Para completar meu quadro de debilidade emocional comecei a chorar quando o Axel soltou sua voz. Caíam mais lágrimas dos meus olhos do que água das nuvens carregadas. No meio daquele show extasiante senti uma mão me apalpando, mas não tive como reagir. Primeiro pensei que era algum tarado, e depois de certo contorcionismo consegui me virar e vi um garoto se afastando, serpenteando no meio da massa que pulava no ritmo do som. Aí me veio de estalo a lembrança do meu celular que estava no bolso da calça molhada de xixi. O garoto havia acabado de me furtar. E o pior, minha mãe ainda estava pagando por aquele aparelho. Comecei apensar que minha mãe poderia ligar e descobrir toda a minha farsa, e esses pensamentos cortaram todo o meu prazer de estar ali no ROCK IN RIO assistindo à banda que mais amo. O show acabou e começou a difícil viagem de volta. Neste exato momento estou dentro ônibus a caminho de casa. Torcendo para minha mãe não descobrir nada. Mas se ela descobrir direi que vivi o dia mais feliz da minha vida.”

Zeca Fonseca
Niterói, 3-10-11

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Vida sem graça

Vida sem graça

Café sem cafeína.
Cigarro sem nicotina.
Cerveja sem álcool.
Manteiga sem sal.
Chocolate sem açúcar, ou comida sem gordura. Aonde vamos parar?
Mulheres sem calcinha; homens sem pegada; sexo sem penetração; pessoas sem identidade; mortos vivos – fé cega.
Sofrimento sem dor, ou dor sem sofrimento.
Não sei mais o que sabia, ou nunca saberei o que deveria realmente saber.
Imaginem só a nossa Terra sem lua, sem água potável, uma sociedade sem leis.
Não sei. Repito, não sei.
Não sei aonde vai dar essa loucura toda que vivemos nos dias de hoje.
Músicas sem compositores;
Livros sem papel;
Mar sem onda;
Filhos sem pais, em contrapartida pais sem filhos.
Moeda sem valor de compra;
Raiva sem sentido;
Amor gratuito;
Sentimentos abafados pela velocidade das coisas do nosso tempo.
Vivemos um tempo sem tempo; usamos um relógio atado no pulso para exibir quanto tempo falta para o fim do dia. Contabilizamos a nossa vida enquanto tememos a nossa morte.
Pessoas vivem nas ruas, enquanto mansões vivem vazias.
Na medida em que o número de doentes aumenta, o de médicos diminui. As bactérias estão cada vez mais resistentes, e os homens cada vez mais desistentes.
Em vez de festas grandiosas onde impera a alegria, o que veremos serão suicídios coletivos.
Gás. Venenos. Qualquer morte indolor será válida para resolver o problema da existência humana, ou melhor, da desistência humana.

Zeca Fonseca
Niterói, 16-9-11

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Crise do Casal

O que é isso que permeia o relacionamento heterossexual nos dias de hoje que tangencia o desprezo e a falta respeito mútuo?
Acho que sobra muito pouco além do sexo. Talvez seja isso que faça do casal um artigo em extinção. Será?
Ou essa crise não passa de mera decadência das relações humanas que acaba refletindo-se na célula da sociedade que é a família?
Homens e mulheres já não se olham com bons olhos ou com romantismo, ou em última análise com respeito. Resta ainda uma fagulha, mas ela não aciona mais a chama do amor. Sabemos que existe uma carnificina erótica, nos becos da noite, onde ambos os sexos colecionam trepadas como um filatelista coleciona selos. Essa dura realidade que dilacera os casais está estampada aí para qualquer pessoa inteligente perceber. Quem não é inteligente não percebe nada, apenas é levado pela onda até se esborrachar em alguma pedra. Os casais sucumbem cada vez mais rapidamente; pouco depois da cópula, se assim posso dizer. E se cópula não houver, aí é que a coisa fica difícil. Tudo pode acontecer de uma hora para outra. Recomendo todo o cuidado aos casais que bravamente ainda permanecem casados. E, não custa lembrar que o conceito de casal se estende aos homossexuais também. Reconheço neles casais como qualquer casal heterossexual. Os moldes são muito parecidos; existem mais semelhanças do que diferenças.
Portanto estamos todos nós, que vivemos em parceria afetiva, no mesmo barco.
Qualquer casal sofre com as ultrassensações que fazem parte dessa modernidade transloucada em que vivemos no século XXI. Mas isso não significa que inexistam casais fiéis e leais. Ainda bem; o fim dos casais representa o fim da família, ou de algo parecido.
O sexo está no ar, nas revistas e em todo o lugar, e persistindo nas camas dos casais que conseguem superar suas crises.

Zeca Fonseca
Niterói, 2-set-2011

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

HOMEM SÓ

Nos primórdios tempos, muito antes de surgir um esboço de civilização, o homem vivia em cavernas e a solidão era uma coisa natural. Éramos animais praticamente irracionais. A sobrevivência era, por assim dizer, a única meta. A rotina desses nossos antepassados era simples, apesar de árdua. Caçar para não morrer de fome era uma atividade que tomava mais tempo do que copular— ou será melhor usar o termo estuprar?— para preservar a espécie. Depois de saciados é que sobrava algum espaço para pensar. Lógico que estes pensamentos eram toscos, mas foi assim que evoluímos e cá estamos milênios depois, aliviados de toda aquela vida selvagem, de toda aquela luta pela sobrevivência. Hoje pensamos demais porque a vida está mais fácil. Será? E o que dizer do número crescente de suicídios? Estatísticas comprovam que até meados do século XX as mulheres se suicidavam mais do que os homens. Agora, quase um século depois, os homens são os campeões nesta matéria. Ou seja, quanto mais fácil e prática se torna a vida, mais os homens desistem de vivê-la. Enquanto isso as mulheres descobriram o encanto de viver a vida livremente. Até aqui nenhuma novidade: sabemos que isto é um processo de inversão de valores que começou com a invenção da pílula anticoncepcional e a consequente liberação sexual experimentada nos anos 1960. Não era para os homens se desesperarem, mas é o que está acontecendo. Vejo, cada vez mais, homens acuados em seus lares; acorrentados a certa dominação velada imposta por suas esposas modernas. Mulheres economicamente ativas e sexualmente liberadas. Aparentemente leais e sabidamente infiéis. Penso que estas mulheres estão imbuídas de um inconsciente processo de vingança. Vingam-se dos seus maridos por tudo aquilo que suas mães, avós e bisavós sofreram enquanto cumpriam pena na prisão disfarçada de lar. Eram verdadeiras empregadas; cozinhando, lavando roupa, e cuidando dos filhos. E os homens eram senhores daquelas vaginas feudais; chefes da família porque eram eles que trabalhavam e ganhavam o dinheiro.
...
Bom, muito tempo passou depois da liberação sexual das mulheres, e da utópica filosofia hippie que pregava a paz e o amor. Hoje vivemos a tal inversão social-sexual, sem que os casais se deem conta disso. As mulheres já dominam diversos setores da sociedade e em pouco tempo estarão tão insensíveis quanto os homens o são. Alguns, mais espertos, entenderão que será necessário ocupar o espaço deixado pelas mulheres – e assim se tornaram mais sensíveis, e mais carinhosos, pois só assim sobreviverão ao caos social que está em curso. Depois de perderem seu espaço no mercado de trabalho terão de se adaptar à nova realidade ou serão escorraçados pelo sistema. Portanto, homens com um pingo de inteligência emocional escaparão desta condenação imposta pela evolução avassaladora da mulher.
Mulher forte; dona da casa, e não mais dona de casa. Restará aos homens ocupar este papel doméstico; cuidando dos filhos, arrumando a casa, cozinhando e sendo cozinhado. E o homem que insistir em não se adaptar será o HOMEM SÓ. Homem oco; sem vida, ou levando uma vida incerta e à deriva de tudo que a sociedade pode oferecer, ou impor. Este homem será o ermitão do século XXI.

Zeca Fonseca
Londres, 20-8-2011

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Homem ideal

Foi-se o tempo em que o macho se sobrepujava no grupo pela sua força física. A seleção da espécie humana se dava de maneira tosca, mas ainda assim fomos capazes de evoluir e atingimos o futuro que nada mais é do que o momento presente.
Muita coisa aconteceu ao ser humano entre o nosso antepassado selvagem e essa realidade virtual que vivemos hoje em dia. Muito se estudou, mas pouco se fala do que nos aguarda num futuro próximo. Penso que estamos todos lascados e que não haverá escapatória para a desgraça que está por vir. Não escrevo para fazer alarde e nem para criar polêmicas em torno do futuro incerto que nos aguarda. Até porque eu mesmo não sei o que vem por aí. Só sei que vem, e não vai ser mais uma dessas calamidades banais que já nos habituamos a ignorar.
Do mesmo eletrodoméstico recebemos notícias cada vez piores; imagens cada vez mais impactantes. Num momento assistimos as tragédias humanas embrulhadas em papel de presente. Logo depois, a nossa boa e velha televisão exibe filmes de ficção dos mais variados tipos e que, às vezes, nos levam a experimentar nossos sentimentos mais aprisionados. Ou seja, a realidade está ficando cada vez mais parecida com a ficção e não o contrário como seria normal acontecer. Choramos e rimos à custa das mentiras que nos são mostradas. E aprendemos a ficar indiferentes perante a realidade que nos é atirada, o tempo todo, pelas mídias cada vez mais velozes.
Tenho medo do que nos aguarda, mas vou fazer de conta que não sei de nada. Quero aproveitar o que resta dessa ignorância global para tocar a vida sem medo se ser feliz.
Escrever é o que eu gosto de fazer, mas, como já disse, quero aproveitar esse epílogo antes que finalmente tudo acabe. A sensação que fica é idêntica àquela que experimentamos quando despertamos de um sonho bom. Somos capazes de fazer de tudo para não sair de dentro do sonho. Vivemos culpados, mas sonhamos inocentemente. Eu sou parte integrante dessa sociedade que consome o planeta e depois finge que não tem culpa de nada.
Cagamos e andamos em bloco; somos todos partes integrantes de uma mesma tragédia anunciada dia após dia, e que teimamos em relevar. Somos mais cegos que os cegos, e mais vis que qualquer vilão de novela. Estamos condenados a chegar ao fim sem saber que ele está próximo.
Qual é o homem ideal?
É a mulher!
Os homens já perderam seus postos no trabalho e em casa, e não sabem o que fazer quando estão sem uma referência feminina. Os homens de hoje estão acuados dentro de cubículos de vergonha; sentem o sabor amargo do fracasso, sem saber que isso faz parte do final de um ciclo. Sai o homem e entra a mulher, mas não é assim tão simples. A equação é difícil: temos de um lado o homem perdendo sua função e de outro a mulher multiatarefada que acha que pode resolver tudo sozinha. Será que é por isso que atualmente as famílias se desfazem com maior rapidez?
Prefiro pensar que está havendo uma natural inversão de valores, e que dentro deste processo o homem irá adaptar-se sem sucumbir. O homem e a mulher sempre foram partes complementares de uma mesma coisa. Essa coisa nada mais é do que a própria raça humana. Portanto, se não cuidarmos da preservação do casal e, por conseguinte, da nossa própria espécie não conseguiremos cuidar do nosso planeta.

Zeca Fonseca
Niterói, 5-08-2011

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Homem que é ômega chora!

A associação mais comum a alfa e ômega é a de princípio e fim. Alfa está no começo de tudo, e ômega tudo acompanha até o fim do mundo. O jesuíta Pierre Teilhard de Chardin tomou esta metáfora na sua apresentação do ômega como final da evolução humana, associado ao Alfa da criação. No cerne dessa questão está a visão filosófica, teológica e mística de Teilhard de Chardin a respeito da evolução de todo o Universo, do caos primordial até o despertar da consciência humana sobre a Terra, estágio esse que, segundo ele, será seguido por uma noogênese, a integração de todo o pensamento humano em uma única rede inteligente que acrescentará mais uma camada em volta da Terra: a noosfera, que recobrirá toda a biosfera terrestre. A orientar todo esse processo, existe uma força que age a partir de dentro da matéria, que orienta a evolução em direção a um ponto de convergência: o ponto ômega.
E este é o ponto que me interessa. Muito se fala em mulher-alfa e homem-ômega. Mas pouco se entende do que se tem escrito e falado sobre o assunto.
Nesta coluna vou expressar a minha visão particular sobre o propalado homem-ômega. Como já demonstrei, ômega é o fim. Fim de quê? Penso que seja o fim do homem forte, do chefe da prole, do sexo forte e de todos os clichês que se conferem ao homem que um dia foi o senhor do destino das coisas que estavam sob o seu jugo. Portanto homem-ômega é o fim de um ciclo que mantinha o homem numa espécie de pedestal. Homens de pedra, homens de ferro, homens corajosos prontos para defender sua prole ou sua terra. Em contrapartida, a mulher-alfa é o começo de uma nova postura da mulher no âmago da sociedade. Lembrem-se: alfa é o começo; ômega, o fim. Começo e fim se encontram no meio de tudo que fazemos, e dá um sentido ao nada que somos.
Quero ressaltar que o fim daquele homem está dando lugar a um novo homem; um ser consciente da igualdade de condições entre os sexos e que aceita esta transformação sem se sentir lesado, ou perdendo algo com esse fim. Os homens que não aceitarem este fato serão escorraçados da sociedade e terão de voltar para as cavernas de onde vieram seus antepassados. Só assim, se isolando e agonizando, esse homem antigo sobreviverá.
Aqui vai uma dica para os homens que desejam se adequar: homem que é ômega chora!

Zeca Fonseca (Niterói, 20-JUL-2011)

domingo, 8 de maio de 2011

Aviso aos Navegantes

Sobre o texto "Império dos Bundas Moles" que postei aqui na semana passada.Eu não tenho nada contra o cineasta e escritor Arnaldo Jabor. Ele é inclusive amigo de minha família, e sua filha também é querida por todos. O fato de eu ter escrito um texto em oposição à crônica intitulada "Bunda Dura" de autoria atribuída ao Jabor, não quer dizer que não goste da pessoa inteligente e admirável que ele é. Gosto, mas meter o pau e criar polêmicas não é um monopólio dele. Muito pelo contrário: pensem que talvez eu esteja, por admirá-lo, seguindo sua trilha e metendo o pau também. E, conhecedor da capacidade intectual do amigo Arnaldo Jabor, tenho certeza de que não ficará nem um pingo incomodado com meu texto, se é que leu! Pois saberá que não há nada de pessoal nisso.
Zeca Fonseca

domingo, 24 de abril de 2011

Império dos bundas moles, ou NUNCA É TARDE PRA RESPONDER AO JABOR.

Só hoje, mais de três anos depois de ser escrito, eu li uma crônica do Arnaldo Jabor com data de 2007, chamado "Bundas duras". Nós temos amigos em comum, mas sinto uma aversão incomum ao modo prepotente e presunçoso de ser do cronista ao escrever sobre o cotidiano da gente. Geralmente ele fala de assuntos que enaltecem os pouco enaltecidos como, por exemplo, as mulheres feias e descuidadas. Tenho certeza de que o seu egocentrismo o impede de entender estas palavras, já que ele, Jabor, se acha o suprassumo da intelligentzia nacional. Quiçá mundial; seu ego é profundo. Vejam seu último filme e entenderão o que eu quero dizer.
O fato é que mais uma vez fiquei indignado com o machismo ultrapassado de Arnaldo Jabor. Enquanto ele vai achincalhando as mulheres que ficam bonitas graças a tratamentos ou qualquer coisa que seja com intuito de se embelezar; ao mesmo tempo vai apregoando que as mulheres legais são as que comem torresminhos inocentes em 'pés-sujos' de luxo, e não ligam para a própria aparência. Afinal pra quê serve um shampoo ou um desodorante íntimo? Essa mulheres do Jabor devem perder menos tempo na frente do espelho, mas em compensação ganham mais volume em suas barrigas flácidas como as bundas que carregam orgulhosas. Mulheres mal amadas por elas mesmas.
Eu, daqui da minha caverna, vou comendo a minha linda melancia todinha e disparando os caroços em machistas recalcados. Ah! E tira o olho da minha melancia. Vá se esbaldar com sua uva passa. Passa!
Zeca Fonseca
Niterói, abril de 2011

terça-feira, 19 de abril de 2011

PROFISSÃO: ADVOGADO

Os advogados são os verdadeiros representantes do capital ou do poder gerado por ele, o dinheiro farto. Eles, os advogados, defendem com unhas e dentes (mas conseguem estar sempre impecáveis, alguns brilham como os brilhantes)o capitalismo e todos os seus tentáculos. Não podemos esquecer que existem os advogados públicos, inofensivos para quem é honesto, são os procuradores que defendem os interesses dos governos, e indiretamente o direito e o bom senso que irá no final das contas, se realmente se fizesse justiça sempre, beneficiar a todos os cidadãos de bem que podemos também denominar CONTRIBUINTES de um sistema na qual acreditam).
Vamos lá. Uns advogados são maravilhosos, e com suas posturas honradas agregam a boa fama que a profissão carrega ao longo de décadas. Contudo não podemos deixar de levar em consideração os maus advogados que defendem o capital do mal. Grana suja que precisa ser protegida, maquiada, do que restou de honestidade nas máquinas governamentais e em suas esferas municipal, estadual e federal.
Será que existe advogado defendendo os cidadãos que tem pouco capital, ou advogado é uma espécie de jóia de boutique que só pode ter quem tem muito?
Precisamos pensar e repensar a sociedade de um modo global, mas só poderemos fazer isso entendendo as diversas camadas que compõem a cagada empedrada que nos engessa a todos. Pensem!
Zeca Fonseca
Niterói,19 de março de 2011

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Hoje poupei a vida de uma barata!

Estava andando na rua.
Feliz apesar de todas as atrocidades que são desferidas contra a gente todos os dias e embaladas com o título de informação. Acho uma tremenda invasão a integridade sentimental do ser humano o modo virulento como os meios de comunicação exploram os fatos anormais. Vivemos todos uma dor globalizada; um sentimento de perda, mesmo sem ter perdido nada.
O dia estava ensolarado, e protegia meus olhos olhando mais para baixo que o normal. Num dado momento meu computador de bordo detectou, de acordo com o sincronismo de meus passos, que iria pisar em cheio em uma barata cascuda e aparentemente grávida de dezenas de baratinhas. Normalmente eu apertaria o passo para me certificar que estaria esmagando uma senhora matriz de inseto tão repugnante e malévolo. Mas hoje, não sei porque, eu fiz o possível para poupar a breve vida daquela barata. Não sei o que deu em mim. Eu salvei a vida dela e de seus futuros filhotinhos nojentos. Onde eu estava com a cabeça?
Bem. Tudo bem! As baratas sempre estiveram aqui na Terra.
Que vivam as baratas e os baratos! Mas só por hoje, porque amanhã voltarei a ser um serial killer de baratas urbanas.
Zeca Fonseca
Niterói, 8 de abril de 2011

domingo, 20 de março de 2011

quero meu ar

Nem tanto ao mar,
nem tanto à terra.
Neste momento da vida,
minha cabeça está a voar.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Alguém: ninguém aqui é alguém

Alguém: ninguém aqui é alguém


Somos corruptelas do ser humano que nossos antepassados um dia foram.
Hoje nada mais somos que sobreviventes de um grande acidente social.
Sociedade que transforma os símbolos em verdades absolutas, e depois sai por aí tentando exumar uma antiga e defasada teoria que envolve palavras como família, tradição e propriedade. Somos antagonistas de uma velha história. Uma lenda que não é mentirosa e que diz que devemos aceitar tudo sem tentar transformar ao menos nossas singelas vidas.
Ninguém aqui é alguém!

Zeca Fonseca
Nit. 19 de fev. 2011

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Verdades e mentiras

As verdades da vida, geralmente, não são ditas; na minha experiência de vida assimilo o que é verdade a partir do gesto, do olhar, e da atitude das pessoas. Já as mentiras podem proliferar em qualquer canto, em qualquer meio, e para qualquer fim.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

"Deus e diabo na terra empapada."

A natureza açoitou o Homem no Rio de Janeiro,
numa espécie de vingança desvairada,
para conter o avanço dos desmatamentos.
A verdade é que a mãe natureza está agonizando em nosso estado,
e o resultado é este:
as matas se uniram aos raios e,
despejaram todas suas armas a esmo sobre quem estava mais perto.
Rios de lama, merda e lágrimas avançaram na direção do mar destruindo tudo;
um tsunami às avessas!

Zeca Fonseca
Niterói, 13 de janeiro de 2011