domingo, 23 de outubro de 2011

Pátria sem vergonha; ou sem vergonha da Pátria!

Pátria sem vergonha; ou sem vergonha da Pátria

Cansei desse papo de que o Brasil é o país do futuro. Quero saber do nosso momento presente; os brasileiros merecem um governo honesto e trabalhador. Pensei que a Dilma iria varrer os sanguessugas do Planalto, mas também não posso pensar que esse dia não vá chegar. Nossa terra tem palmeiras, e nosso povo paciência de sobra.
Alguma coisa precisa mudar urgentemente no pensamento do cidadão brasileiro; quem vai dizer à nação que o povo está livre para ir e vir? Quem vai priorizar a cultura e a difusão de ideias para dar ao povo o que é do povo por direito — educação? Mas precisamos vencer algumas etapas antes. Assisti, na semana que passou, a um jornal televisivo cujo nome não vou revelar, a notícia de que um desembargador pôs em liberdade um cidadão, funcionário público, que atropelou várias pessoas com sua arma, digo, seu automóvel. Uma pessoa perdeu a vida.
Chama atenção a impunidade que teima em desenvolver-se, como um câncer em estágio avançado, no Brasil. Talvez nunca desapareça, mas é preciso que diminua drasticamente.
O tal funcionário público, de Niterói, era responsável justamente pelo setor de fiscalização por bafômetro.
Agora vocês devem estar se perguntando: ‘Será que o funcionário público bebum que cuida da fiscalização por bafômetro aceitou fazer o teste depois de atropelar um monte de gente?’
Eu respondo se vocês não leram nos jornais:
Não. Ele se negou a fazer o teste que comprovaria sua embriaguês. E está livre apesar de ter cometido um crime onde uma pessoa faleceu.
Aí eu é que pergunto:
Que diabo de justiça é essa ,onde só os fodidos se fodem?

Zeca Fonseca
Niterói, 21-10-2011

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Pra não dizer que não falei de rock and roll

Roubada no Rock
Vou narrar em primeira pessoa do singular a aventura de uma jovem de dezoito anos que suplantou diversos obstáculos para assistir ao show do Guns and Roses, sua banda preferida, no último dia do ROCK IN RIO:
“Saí de minha cidade, no interior de São Paulo, às seis horas da manhã de domingo. Disse para minha mãe que iria passar o domingo e parte da segunda-feira na casa de uma amiga que mora numa cidade vizinha. Minha mãe confia muito em mim, e não desconfiou nem um pouco daquele meu audacioso plano. Eu sabia que se falasse que iria para o Rio de Janeiro, isso acarretaria uma demorada conversa para me convencer dos múltiplos perigos que eu estaria correndo. Por isso eu menti para ela. Eu que odeio mentira, mas sabia que era uma mentira necessária. Afinal minha mãe não entenderia que o meu desejo era mais forte que qualquer lógica. Eu sabia dos riscos, e mesmo assim embarquei em um ônibus interestadual ao raiar do domingo. No céu azul estava começando a aparecer umas nuvens. Mas nada preocupava, na verdade o desejo me cegava. Combinei com minha amiga que se minha mãe telefonasse era para não atender. Na casa dela o telefone fixo estava com defeito, o que era perfeito para meu plano dar certo. Depois inventaria alguma desculpa para não ter atendido o telefonema dela, ou mandaria umas mensagens pelo meu celular dizendo que estava tudo bem. Cheguei à rodoviária do Rio pouco depois das seis da tarde. Assim que desembarquei, me informei sobre a condução que deveria tomar para chegar ao evento. Duas horas mais tarde estava entrando na Cidade do Rock que já estava lotada de gente de todos os tipos. Fiquei estarrecida. Tentava entender aquele espaço enquanto respirava fundo para manter a calma e não me meter em confusão. Tudo que via me encantava, mas também amedrontava. Tinha muita gente doida e parecia que aquela massa humana era impenetrável. Resolvi esperar o momento adequado para me aproximar do palco. Logo que acabou o show que precedia a minha amada banda, começou uma chuvarada danada. Aquilo foi bom porque proporcionou espaço suficiente pra eu me aboletar na grade de proteção, passando para trás toda aquela multidão. Na minha frente apenas os seguranças – depois o palco sagrado, onde meu ídolo Axel Rose em breve cantaria aquelas canções que eu sempre cantava junto com ele na solidão do meu quarto. Quando o Guns entrou no palco eu urinei nas calças sem querer. Era muita emoção; por isso nem liguei, afinal estava todo mundo encharcado ali. Para completar meu quadro de debilidade emocional comecei a chorar quando o Axel soltou sua voz. Caíam mais lágrimas dos meus olhos do que água das nuvens carregadas. No meio daquele show extasiante senti uma mão me apalpando, mas não tive como reagir. Primeiro pensei que era algum tarado, e depois de certo contorcionismo consegui me virar e vi um garoto se afastando, serpenteando no meio da massa que pulava no ritmo do som. Aí me veio de estalo a lembrança do meu celular que estava no bolso da calça molhada de xixi. O garoto havia acabado de me furtar. E o pior, minha mãe ainda estava pagando por aquele aparelho. Comecei apensar que minha mãe poderia ligar e descobrir toda a minha farsa, e esses pensamentos cortaram todo o meu prazer de estar ali no ROCK IN RIO assistindo à banda que mais amo. O show acabou e começou a difícil viagem de volta. Neste exato momento estou dentro ônibus a caminho de casa. Torcendo para minha mãe não descobrir nada. Mas se ela descobrir direi que vivi o dia mais feliz da minha vida.”

Zeca Fonseca
Niterói, 3-10-11