domingo, 8 de janeiro de 2012

Ano Novo; Vida Velha

Ano Novo; Vida Velha


O Natal perdeu o sentido depois que minha mãe morreu. Antes, era a época mais feliz, agora é a data mais triste do ano para mim.
Fico lá, cercado de pessoas familiares que eu tanto amo, mas não consigo embarcar naquela felicidade azul que reina acima de todas as cabeças. Ou melhor; pior, na verdade: entro dentro dum invólucro de tristeza que não me permite saída.
Existe uma tristeza encruada em todas as famílias. Alimentada por problemas variados: disputa por herança, divergências afetivas, cobranças nunca pagas, mas também nunca cobradas e uma infinidade de picuinhas de todo tipo.
Ninguém escapa da merda familiar. Os reis das famílias são os bebês. Reinam sem dar uma palavra; esse reinado acaba quando eles, os bebês começam a falar; esse é um mistério para os psicanalistas e estudiosos do assunto. Mas quem manda mesmo é quem bota mais dinheiro em casa, ou seja, as mulheres. Antigamente, no tempo de meu pai, eram os homens que detinham o poder de ir e vir; esbravejar e agir do modo que bem entendesse. O nome disso é poder. Talvez hoje os sexos já estejam mais ou menos equilibrados nas diversas sociedades espalhadas nesse mundão. Tem muito homem ganhando menos dinheiro que a mulher, e por isso assumindo papéis domésticos que antes eram das mulheres. A sociedade nunca esteve tão perdida e tão perto de solucionar as diferenças de sexo, raça, credo, e a principal que é a diferença social. Cada vez vejo mais misturas sócioeconômicas acontecendo; a humanidade do futuro terá uma cor indefinível, assim como o sexo que está de ponta-cabeça.
Quando estou feliz, sinto que exacerbo essa felicidade a tal ponto que não deve fazer bem a ninguém. Tudo demais é ruim disse um grande pensador chinês que viveu há mais de três mil anos. Sentir-se feliz e manter esta felicidade é uma forma sábia de alcançar o equilíbrio. Saber dosar as emoções é o grande segredo da vida. Umas pessoas, poucas, já nascem espiritualizadas e, desse modo, não se desequilibram facilmente. A família, que é a célula da sociedade civilizada, está agonizando. No íntimo da família decreta-se qual dos integrantes é o problemático, ou doente. E esse doente problemático vai possibilitar a ocultação dos problemas de todos os demais indivíduos deste Grupo Familiar Obrigatório.
O coletivo de família deveria ser sociedade. A mesma sociedade que tende a banir os desequilibrados – os sem médicos. Sob essa mesma ótica, opressora, sinto uma queimação dolorosa motivada pelas cinzas, que mesmo apagadas, ainda ardem em mim.
Mudou o ano, mas eu não vou mudar.
Vou vomitar textos sem parar.

Zeca Fonseca
Petrópolis 8-JAN-2012

Um comentário:

  1. Olá,
    Que em 2012 vc possa ter felicidade e realizações!!!
    Abraços fraternos de paz e alegria

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