quinta-feira, 25 de agosto de 2011

HOMEM SÓ

Nos primórdios tempos, muito antes de surgir um esboço de civilização, o homem vivia em cavernas e a solidão era uma coisa natural. Éramos animais praticamente irracionais. A sobrevivência era, por assim dizer, a única meta. A rotina desses nossos antepassados era simples, apesar de árdua. Caçar para não morrer de fome era uma atividade que tomava mais tempo do que copular— ou será melhor usar o termo estuprar?— para preservar a espécie. Depois de saciados é que sobrava algum espaço para pensar. Lógico que estes pensamentos eram toscos, mas foi assim que evoluímos e cá estamos milênios depois, aliviados de toda aquela vida selvagem, de toda aquela luta pela sobrevivência. Hoje pensamos demais porque a vida está mais fácil. Será? E o que dizer do número crescente de suicídios? Estatísticas comprovam que até meados do século XX as mulheres se suicidavam mais do que os homens. Agora, quase um século depois, os homens são os campeões nesta matéria. Ou seja, quanto mais fácil e prática se torna a vida, mais os homens desistem de vivê-la. Enquanto isso as mulheres descobriram o encanto de viver a vida livremente. Até aqui nenhuma novidade: sabemos que isto é um processo de inversão de valores que começou com a invenção da pílula anticoncepcional e a consequente liberação sexual experimentada nos anos 1960. Não era para os homens se desesperarem, mas é o que está acontecendo. Vejo, cada vez mais, homens acuados em seus lares; acorrentados a certa dominação velada imposta por suas esposas modernas. Mulheres economicamente ativas e sexualmente liberadas. Aparentemente leais e sabidamente infiéis. Penso que estas mulheres estão imbuídas de um inconsciente processo de vingança. Vingam-se dos seus maridos por tudo aquilo que suas mães, avós e bisavós sofreram enquanto cumpriam pena na prisão disfarçada de lar. Eram verdadeiras empregadas; cozinhando, lavando roupa, e cuidando dos filhos. E os homens eram senhores daquelas vaginas feudais; chefes da família porque eram eles que trabalhavam e ganhavam o dinheiro.
...
Bom, muito tempo passou depois da liberação sexual das mulheres, e da utópica filosofia hippie que pregava a paz e o amor. Hoje vivemos a tal inversão social-sexual, sem que os casais se deem conta disso. As mulheres já dominam diversos setores da sociedade e em pouco tempo estarão tão insensíveis quanto os homens o são. Alguns, mais espertos, entenderão que será necessário ocupar o espaço deixado pelas mulheres – e assim se tornaram mais sensíveis, e mais carinhosos, pois só assim sobreviverão ao caos social que está em curso. Depois de perderem seu espaço no mercado de trabalho terão de se adaptar à nova realidade ou serão escorraçados pelo sistema. Portanto, homens com um pingo de inteligência emocional escaparão desta condenação imposta pela evolução avassaladora da mulher.
Mulher forte; dona da casa, e não mais dona de casa. Restará aos homens ocupar este papel doméstico; cuidando dos filhos, arrumando a casa, cozinhando e sendo cozinhado. E o homem que insistir em não se adaptar será o HOMEM SÓ. Homem oco; sem vida, ou levando uma vida incerta e à deriva de tudo que a sociedade pode oferecer, ou impor. Este homem será o ermitão do século XXI.

Zeca Fonseca
Londres, 20-8-2011

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Homem ideal

Foi-se o tempo em que o macho se sobrepujava no grupo pela sua força física. A seleção da espécie humana se dava de maneira tosca, mas ainda assim fomos capazes de evoluir e atingimos o futuro que nada mais é do que o momento presente.
Muita coisa aconteceu ao ser humano entre o nosso antepassado selvagem e essa realidade virtual que vivemos hoje em dia. Muito se estudou, mas pouco se fala do que nos aguarda num futuro próximo. Penso que estamos todos lascados e que não haverá escapatória para a desgraça que está por vir. Não escrevo para fazer alarde e nem para criar polêmicas em torno do futuro incerto que nos aguarda. Até porque eu mesmo não sei o que vem por aí. Só sei que vem, e não vai ser mais uma dessas calamidades banais que já nos habituamos a ignorar.
Do mesmo eletrodoméstico recebemos notícias cada vez piores; imagens cada vez mais impactantes. Num momento assistimos as tragédias humanas embrulhadas em papel de presente. Logo depois, a nossa boa e velha televisão exibe filmes de ficção dos mais variados tipos e que, às vezes, nos levam a experimentar nossos sentimentos mais aprisionados. Ou seja, a realidade está ficando cada vez mais parecida com a ficção e não o contrário como seria normal acontecer. Choramos e rimos à custa das mentiras que nos são mostradas. E aprendemos a ficar indiferentes perante a realidade que nos é atirada, o tempo todo, pelas mídias cada vez mais velozes.
Tenho medo do que nos aguarda, mas vou fazer de conta que não sei de nada. Quero aproveitar o que resta dessa ignorância global para tocar a vida sem medo se ser feliz.
Escrever é o que eu gosto de fazer, mas, como já disse, quero aproveitar esse epílogo antes que finalmente tudo acabe. A sensação que fica é idêntica àquela que experimentamos quando despertamos de um sonho bom. Somos capazes de fazer de tudo para não sair de dentro do sonho. Vivemos culpados, mas sonhamos inocentemente. Eu sou parte integrante dessa sociedade que consome o planeta e depois finge que não tem culpa de nada.
Cagamos e andamos em bloco; somos todos partes integrantes de uma mesma tragédia anunciada dia após dia, e que teimamos em relevar. Somos mais cegos que os cegos, e mais vis que qualquer vilão de novela. Estamos condenados a chegar ao fim sem saber que ele está próximo.
Qual é o homem ideal?
É a mulher!
Os homens já perderam seus postos no trabalho e em casa, e não sabem o que fazer quando estão sem uma referência feminina. Os homens de hoje estão acuados dentro de cubículos de vergonha; sentem o sabor amargo do fracasso, sem saber que isso faz parte do final de um ciclo. Sai o homem e entra a mulher, mas não é assim tão simples. A equação é difícil: temos de um lado o homem perdendo sua função e de outro a mulher multiatarefada que acha que pode resolver tudo sozinha. Será que é por isso que atualmente as famílias se desfazem com maior rapidez?
Prefiro pensar que está havendo uma natural inversão de valores, e que dentro deste processo o homem irá adaptar-se sem sucumbir. O homem e a mulher sempre foram partes complementares de uma mesma coisa. Essa coisa nada mais é do que a própria raça humana. Portanto, se não cuidarmos da preservação do casal e, por conseguinte, da nossa própria espécie não conseguiremos cuidar do nosso planeta.

Zeca Fonseca
Niterói, 5-08-2011

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Homem que é ômega chora!

A associação mais comum a alfa e ômega é a de princípio e fim. Alfa está no começo de tudo, e ômega tudo acompanha até o fim do mundo. O jesuíta Pierre Teilhard de Chardin tomou esta metáfora na sua apresentação do ômega como final da evolução humana, associado ao Alfa da criação. No cerne dessa questão está a visão filosófica, teológica e mística de Teilhard de Chardin a respeito da evolução de todo o Universo, do caos primordial até o despertar da consciência humana sobre a Terra, estágio esse que, segundo ele, será seguido por uma noogênese, a integração de todo o pensamento humano em uma única rede inteligente que acrescentará mais uma camada em volta da Terra: a noosfera, que recobrirá toda a biosfera terrestre. A orientar todo esse processo, existe uma força que age a partir de dentro da matéria, que orienta a evolução em direção a um ponto de convergência: o ponto ômega.
E este é o ponto que me interessa. Muito se fala em mulher-alfa e homem-ômega. Mas pouco se entende do que se tem escrito e falado sobre o assunto.
Nesta coluna vou expressar a minha visão particular sobre o propalado homem-ômega. Como já demonstrei, ômega é o fim. Fim de quê? Penso que seja o fim do homem forte, do chefe da prole, do sexo forte e de todos os clichês que se conferem ao homem que um dia foi o senhor do destino das coisas que estavam sob o seu jugo. Portanto homem-ômega é o fim de um ciclo que mantinha o homem numa espécie de pedestal. Homens de pedra, homens de ferro, homens corajosos prontos para defender sua prole ou sua terra. Em contrapartida, a mulher-alfa é o começo de uma nova postura da mulher no âmago da sociedade. Lembrem-se: alfa é o começo; ômega, o fim. Começo e fim se encontram no meio de tudo que fazemos, e dá um sentido ao nada que somos.
Quero ressaltar que o fim daquele homem está dando lugar a um novo homem; um ser consciente da igualdade de condições entre os sexos e que aceita esta transformação sem se sentir lesado, ou perdendo algo com esse fim. Os homens que não aceitarem este fato serão escorraçados da sociedade e terão de voltar para as cavernas de onde vieram seus antepassados. Só assim, se isolando e agonizando, esse homem antigo sobreviverá.
Aqui vai uma dica para os homens que desejam se adequar: homem que é ômega chora!

Zeca Fonseca (Niterói, 20-JUL-2011)